Reportagem
Sílvio
Nogueira nasceu a 18 de Março de 1984, na Ilha Terceira. Aos 10 anos de idade instalou-se
na Ilha do Faial até aos 21 anos. Era um jovem desportista cheio de vontade de
viver até que aos 19 anos um acidente colocou-o paraplégico. O sonho do
desporto parecia ter terminado, mas não… O jovem terceirense Sílvio Nogueira,
depois de vários anos de luta e força de vontade, alcançou, na passada época, o
título de campeão nacional e conquistou a Taça de Portugal, ao serviço da
equipa da APD-Braga.
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Foto: Direitos Reservados |
Sempre foi um jovem muito activo,
pois estava, de uma maneira ou de outra, ligado ao desporto, sendo a sua modalidade
de eleição o futebol, como a maioria dos miúdos da sua idade. E enquanto menino
do futebol, representou várias equipas, tais como o Angrense, Lusitânia,
Marítimo de Corpo Santo, Fayal Sport, Cedrense, Atlético, Salão, entre outras.
Posteriormente, despertou para
uma outra realidade – o atletismo. Representou o clube Ilha Azul, em nome do
qual ganhou alguns troféus. Alcançou o sucesso numa das mais famosas corridas
dos Açores, a denominada Corrida dos Reis, que se realiza todos os anos na Ilha
do Pico, na freguesia de São Mateus, conquistando na altura o terceiro lugar da
classificação geral, entre muitos atletas representantes de grandes clubes,
como do Benfica, Sporting, Lusitânia, Angrense, entre outros.
Mas nem só de futebol e de
atletismo faz a história deste grande atleta, que para além de ter vencido no
desporto, e continuar a arrecadar troféus, venceu muitas das barreiras que a
vida fez que se atravessassem na sua frente.
Um acidente de carro a 4 de
Maio de 2003, em pleno dia da Mãe, e quando se deslocava para o jogo de futebol
do evento de entrega das faixas de campeão da Associação de Futebol da Horta
(época de 2002/03), eis que o impensável aconteceu. O Sílvio Nogueira fica paraplégico.
O “impensável aconteceu”, com
o rebentamento de um pneu da carrinha que os transportava para o desafio de
futebol, deu-se o despiste, tendo o veículo saído da estrada e capotando por várias
vezes. “Gerou-se na altura a confusão e quando tudo acalmou estava eu, no chão,
sob a carrinha…”
Deste acidente resultaram
várias lesões, incluindo paraplegia (perda transitória ou definitiva da
capacidade de realizar movimentos devido à ausência de força muscular de ambos
os membros inferiores).
“A partir desse dia a minha
vida mudou por completo. Dependeria sempre de uma cadeira de rodas (“a minha
menina”) para me deslocar. Quando me apercebi do que me tinha acontecido e das
consequências inerentes, entrei em desespero, e eu só tinha 19 anos. Era um
jovem ambicioso com um futuro muito promissor, mas o mundo acabava de desabar
em cima de mim…”.
Com o apoio de todos os que
lhe eram queridos, entre eles os pais, conseguiu superar esta dramática fase, e
foi então que descobriu os seus verdadeiros amigos.
Mas a pergunta era óbvia: “Porquê
eu? Isso não me saía da cabeça. Com tantas pessoas más neste mundo... Que mal tinha
feito eu para merecer este infortúnio. Era um pensamento constante”.
Sílvio Nogueira apercebeu-se
que não valia a pena continuar a lamentar-se, e inicia-se assim uma nova fase
da sua vida, que o faz conviver com outros pacientes e aprender a encarar esta
nova realidade.
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Foto: Dreitos Reservados |
Esteve em Itália a fazer
tratamentos, e durante a sua estadia, gerou-se ao seu redor uma grande onda de
solidariedade, com o objectivo de o ajudar, financeiramente, mas também com o para
lhe passarem mensagem de força. “Nunca pensei que esta acção atingisse tamanha
dimensão, que contou com o envolvimento de pessoas ligadas ao desporto
nacional, entre as quais Pauleta, Paulo Madeira, a Seleção Nacional de Futebol,
entre outros…
Após muitos e longos
tratamentos, e uma enorme vontade em contrariar o sucedido, Sílvio Nogueira
reaprendeu a andar na cidade Italiana de Vicenza.
O desporto não estava
esquecido, embora a ideia de voltar era algo muito difícil de retornar. Contudo,
em Setembro de 2004, decidiu ir dar apoio a um grande amigo (Carlos Ferreira),
que se encontrava na Grécia, na cidade de Atenas, nos jogos Paralímpicos.
“Vivi um dos melhores dias
da minha vida, pois tive contacto com pessoas de diversos países, com
diferentes limitações, algumas iguais à minha e outras piores. Assisti a
eventos desportivos de várias modalidades, e foi assim que assisti pela
primeira vez a algum desporto adaptado. Fiquei verdadeiramente boquiaberto”. E
tal assim foi que as amizades, entretanto feitas, arrastaram-no para o
basquetebol adaptado. “De início tive muito receio, fruto do que vi na Grécia,
o contacto físico, a possibilidade de cair, enfim tudo era novo para mim”.
Mas a sua personalidade
competitiva viria a revelar-se. Ambicionava ser campeão nacional de basquetebol
adaptado e assim abraçou este desejo com muito empenho e dedicação.
Iniciou a sua carreira
desportiva na APD-Porto, onde durante cinco anos aprendeu e evoluiu bastante.
Acabaria por ser convidado para integrar a equipa da APD-Braga, onde o nível de
competitividade era consideravelmente mais elevado. Mas foi necessário investir
numa cadeira de competição feita à sua medida. Com muito trabalho individual e de
equipa, conseguiu esta época atingir o objectivo anteriormente estipulado. “Consagrei-me
campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal, em basquetebol adaptado. Espero
dar continuidade à minha evolução e, na próxima época, igualar ou superar os
sucessos desta.”
Sílvio Nogueira deixou uma
palavra de apreço e de força para todos os que enfrentam severas vicissitudes,
pois “com esforço e dedicação todos os sonhos são possíveis…”
Mário Nunes (jornalista)