sexta-feira, 26 de julho de 2013

AÇORIANO SILVIO NOGUEIRA É CAMPEÃO NACIONAL DE BASQUETEBOL E DETENTOR DA TAÇA DE PORTUGAL EM BASQUETEBOL ADAPTADO

Reportagem

Sílvio Nogueira nasceu a 18 de Março de 1984, na Ilha Terceira. Aos 10 anos de idade instalou-se na Ilha do Faial até aos 21 anos. Era um jovem desportista cheio de vontade de viver até que aos 19 anos um acidente colocou-o paraplégico. O sonho do desporto parecia ter terminado, mas não… O jovem terceirense Sílvio Nogueira, depois de vários anos de luta e força de vontade, alcançou, na passada época, o título de campeão nacional e conquistou a Taça de Portugal, ao serviço da equipa da APD-Braga.
 
                                                                                 Foto: Direitos Reservados
Sempre foi um jovem muito activo, pois estava, de uma maneira ou de outra, ligado ao desporto, sendo a sua modalidade de eleição o futebol, como a maioria dos miúdos da sua idade. E enquanto menino do futebol, representou várias equipas, tais como o Angrense, Lusitânia, Marítimo de Corpo Santo, Fayal Sport, Cedrense, Atlético, Salão, entre outras.
Posteriormente, despertou para uma outra realidade – o atletismo. Representou o clube Ilha Azul, em nome do qual ganhou alguns troféus. Alcançou o sucesso numa das mais famosas corridas dos Açores, a denominada Corrida dos Reis, que se realiza todos os anos na Ilha do Pico, na freguesia de São Mateus, conquistando na altura o terceiro lugar da classificação geral, entre muitos atletas representantes de grandes clubes, como do Benfica, Sporting, Lusitânia, Angrense, entre outros.
Mas nem só de futebol e de atletismo faz a história deste grande atleta, que para além de ter vencido no desporto, e continuar a arrecadar troféus, venceu muitas das barreiras que a vida fez que se atravessassem na sua frente.
Um acidente de carro a 4 de Maio de 2003, em pleno dia da Mãe, e quando se deslocava para o jogo de futebol do evento de entrega das faixas de campeão da Associação de Futebol da Horta (época de 2002/03), eis que o impensável aconteceu. O Sílvio Nogueira fica paraplégico.
O “impensável aconteceu”, com o rebentamento de um pneu da carrinha que os transportava para o desafio de futebol, deu-se o despiste, tendo o veículo saído da estrada e capotando por várias vezes. “Gerou-se na altura a confusão e quando tudo acalmou estava eu, no chão, sob a carrinha…”
Deste acidente resultaram várias lesões, incluindo paraplegia (perda transitória ou definitiva da capacidade de realizar movimentos devido à ausência de força muscular de ambos os membros inferiores).
“A partir desse dia a minha vida mudou por completo. Dependeria sempre de uma cadeira de rodas (“a minha menina”) para me deslocar. Quando me apercebi do que me tinha acontecido e das consequências inerentes, entrei em desespero, e eu só tinha 19 anos. Era um jovem ambicioso com um futuro muito promissor, mas o mundo acabava de desabar em cima de mim…”.
Com o apoio de todos os que lhe eram queridos, entre eles os pais, conseguiu superar esta dramática fase, e foi então que descobriu os seus verdadeiros amigos.
Mas a pergunta era óbvia: “Porquê eu? Isso não me saía da cabeça. Com tantas pessoas más neste mundo... Que mal tinha feito eu para merecer este infortúnio. Era um pensamento constante”.
Sílvio Nogueira apercebeu-se que não valia a pena continuar a lamentar-se, e inicia-se assim uma nova fase da sua vida, que o faz conviver com outros pacientes e aprender a encarar esta nova realidade.
                                                         Foto: Dreitos Reservados
Esteve em Itália a fazer tratamentos, e durante a sua estadia, gerou-se ao seu redor uma grande onda de solidariedade, com o objectivo de o ajudar, financeiramente, mas também com o para lhe passarem mensagem de força. “Nunca pensei que esta acção atingisse tamanha dimensão, que contou com o envolvimento de pessoas ligadas ao desporto nacional, entre as quais Pauleta, Paulo Madeira, a Seleção Nacional de Futebol, entre outros…

Após muitos e longos tratamentos, e uma enorme vontade em contrariar o sucedido, Sílvio Nogueira reaprendeu a andar na cidade Italiana de Vicenza.
 
O desporto não estava esquecido, embora a ideia de voltar era algo muito difícil de retornar. Contudo, em Setembro de 2004, decidiu ir dar apoio a um grande amigo (Carlos Ferreira), que se encontrava na Grécia, na cidade de Atenas, nos jogos Paralímpicos.

“Vivi um dos melhores dias da minha vida, pois tive contacto com pessoas de diversos países, com diferentes limitações, algumas iguais à minha e outras piores. Assisti a eventos desportivos de várias modalidades, e foi assim que assisti pela primeira vez a algum desporto adaptado. Fiquei verdadeiramente boquiaberto”. E tal assim foi que as amizades, entretanto feitas, arrastaram-no para o basquetebol adaptado. “De início tive muito receio, fruto do que vi na Grécia, o contacto físico, a possibilidade de cair, enfim tudo era novo para mim”.
Mas a sua personalidade competitiva viria a revelar-se. Ambicionava ser campeão nacional de basquetebol adaptado e assim abraçou este desejo com muito empenho e dedicação.
Iniciou a sua carreira desportiva na APD-Porto, onde durante cinco anos aprendeu e evoluiu bastante. Acabaria por ser convidado para integrar a equipa da APD-Braga, onde o nível de competitividade era consideravelmente mais elevado. Mas foi necessário investir numa cadeira de competição feita à sua medida. Com muito trabalho individual e de equipa, conseguiu esta época atingir o objectivo anteriormente estipulado. “Consagrei-me campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal, em basquetebol adaptado. Espero dar continuidade à minha evolução e, na próxima época, igualar ou superar os sucessos desta.”
Sílvio Nogueira deixou uma palavra de apreço e de força para todos os que enfrentam severas vicissitudes, pois “com esforço e dedicação todos os sonhos são possíveis…”

 
Mário Nunes (jornalista)