REPORTAGEM
Marco Roberto Ventura, 37 anos, conhecido no mundo futebol
micaelense por Ventura. É um jovem que joga futebol e reside na Vila da Povoação.
É licenciado em Gestão de Empresas, exercendo a actividade de Técnico Oficial
de Contas, para além de ser um jogador de futebol de craveira. A sua vida
desportiva, que é longa, aliada a um enorme palmarés ficam retratados nesta
reportagem em exclusivo para o DFA.
O futebol foi
desde sempre a sua grande paixão, apesar de ter praticado outras modalidades. Começou
por ser atleta de salto em comprimento, tendo conseguido os mínimos regionais
para poder competir a nível nacional. Foi igualmente atleta de basquetebol
tendo mesmo sido convocado para a selecção de São Miguel, tudo isto até aos 13
anos de idade, enquanto ia conciliando o futebol com o atletismo e basquetebol.
Porém, o amor e paixão pelo futebol foi mais forte e Marco Ventura passou a
praticar apenas a modalidade do futebol.
Aos oito
anos de idade começou a jogar futebol 7, em equipas concelhias e selecções
concelhias que competiam por toda a ilha. Acabou por chegar à selecção da Vila
da Povoação, na altura treinado pelo Professor de Educação Física, Alberto
Linhares.
De salientar
que muitos dos actuais jogadores de futebol de São Miguel jogaram nestas selecções,
onde começaram a despontar valores do futebol, que mais tarde confirmaram essa
habilidade. E a vida propriamente dita de Ventura, começa no preciso momento em
que a dada altura o Mira Mar SC foi recrutar vários atletas a esta selecção,
tendo Ventura sido um dos eleitos.
Ora, estava
dado o grande passo do que viria a ser o grande jogador Ventura, pois realizou quase
toda a sua formação no Mira Mar SC, tendo sido treinado por "velhas
glórias", como Vieirinha e Carlos Manuel, entre outros. Mas o nosso
interlocutor não quis deixar passar despercebido o nome dum director que o
marcou bastante durante a sua formação: de seu nome João de Deus “que foi como
um pai para mim, impondo regras e principalmente, mostrando que a educação e o
respeito pelos mais velhos e pelos adversários, faziam também parte do futebol”.
Ainda
juvenil e posteriormente como júnior do Mira Mar SC, começou a ser chamado para
treinar com a equipa sénior, que tinha no seu plantel muitos e bons profissionais.
Disputavam na altura os seniores a Série E, dos nacionais. “Era um futebol
fortíssimo e encontrávamos equipas continentais que apresentavam um futebol já
muito competitivo e com um rigor tático e técnico de elevado nível. Aprendi
muito nos treinos e fiz vários jogos na equipa principal, treinada pelo técnico
Joaquim Trindade. Acho importante realçar o facto de que eu ainda joguei vários
jogos no extinto Torneio do Santo Cristo dos Milagres que reunia várias equipas
da ilha”.
E Ventura
foi dizendo que jogou contra grandes equipas nos nacionais, sempre na condição
de suplente utilizado, e que isso só o engrandeceu a nível desportivo. “Nessa
época, o jogo que mais me marcou foi um Operário-Mira Mar, disputado na Lagoa,
e onde alinhavam na equipa fabril nomes como Pauleta e Vítor Simas, entre
outros. Assim, aos 16 anos de idade, eu tive o privilégio de entrar, por 20
minutos para tentar marcar o Pauleta, que já naquela altura era um jogador
acima de todos os outros. Finda esta época, foi-me proposto pelo treinador do
Mira Mar SC, Joaquim Mendes, ficar em definitivo, com o plantel sénior”. Mas a
escola em Ponta Delgada que frequentava falou mais alto, e teve que recusar o
convite. Foi então que o FC Vale Formoso contactou Ventura e o “acolheu” no
plantel júnior, na altura com 17 anos. E a pesar nesta decisão esteve o facto
de ter família a viver nas Furnas. Deu-se bem nos juniores, tanto mais que em
pouco tempo era chamado pelo técnico dos seniores, mister Décio (Ribeira
Grande), e “lá comecei a jogar com nomes como Salsa, João Massa, Mariano
Marroco e o mais marcante de todos, foi o "Expresso das Furnas" - António
José Louro. Foi este senhor na época seguinte, meu treinador nos seniores no FC
Vale Formoso, me fez um defesa central. É a ele que eu devo o facto de hoje em
dia ser central e ter aprendido a gostar de jogar nesta posição”. E assim se
passaram quatro épocas nas Furnas, tendo ao longo desse tempo recebido convites,
desde o Santa Clara ao União Micaelense, mas sempre recusou por imperativo de
estudos superiores na Universidade dos Açores.
Terminada a
licenciatura, voltou ao Mira Mar SC, e posteriormente ingressou no União de
Nordeste, treinado por João Amaral, onde fez duas épocas. As condições
apresentadas segundo Ventura, pelo União Nordeste eram irrecusáveis, o que o
levou a aceitar o desafio.
Mas o FC Vale
Formoso volta a abrir a equipa sénior e o treinador Juranir Cunha, assim como o
presidente Sandro Ferreira, conseguem levar Ventura novamente para o FC Vale
Formoso, onde fez uma temporada. Na época seguinte o Mira Mar SC voltou a ser o
seu clube. Militava o Mira Mar no distrital de São Miguel.
“Senti que
estava na hora de voltar a "casa". Voltei ao Mira Mar SC, e cá me
mantenho aos 37 anos de idade, rodeado de miúdos que têm muito talento, mas
cuja mentalidade não se adequa ao mundo do futebol. Até hoje, o que mais
lamento, na minha longa carreira, é o facto de nunca ter vencido a Taça de São
Miguel, tendo já chegado a quatro finais. No historial do Mira Mar, a equipa
sénior nunca conquistou este trofeu... e se me perguntassem qual o meu maior
desejo para esta época, eu diria que seria conquistá-lo”.
“Nunca conheci ninguém
como o Presidente Betinho…”
“Ao longo de
todos estes anos, foram vários os treinadores e directores que conheci mas
nunca ninguém como o presidente Betinho, do Mira Mar. Ele, Norberto Araújo, é
alguém que sente e “sofre” imenso pelo clube querendo sempre mais e melhor, mas
tantas vezes é criticado injustamente. Diariamente ele tenta fazer o melhor
pelo seu clube, colocando tantas vezes a sua vida de parte em prol do Mira Mar
SC. É triste, mas é verdade estas injustiças…”
Relativamente
às dificuldades que o seu clube do coração atravessa, não é o dinheiro que o
agarra ao Mira Mar, “pois como todos sabem, o clube vive dificuldades, mas o
meu amor a este clube é maior que a ambição do dinheiro. E vou ficar neste
clube até que o corpo me permita jogar. Mais tarde espero abraçar as funções de
treinador de futebol e ficar à frente duma equipa sénior pois pretendo
continuar ligado ao futebol”.
Em jeito de
conclusão, “queria referir que o maior "título" que conquistei no
futebol foi o respeito que ganhei de todos os adeptos e treinadores das equipas
por onde passei...isso sim, faz-me sentir orgulhoso. Queria também deixar uma
palavra aos jovens de hoje para que percebam de uma vez por todas, que a parte
mais importante de um jogador de futebol é a cabeça e não os pés... podem ser
craques, mas se a mentalidade não o for, não chegam a lado nenhum. Treinem e
esforcem-se, sempre respeitando os mais velhos e os treinadores, que mais cedo
ou mais tarde, serão recompensados.
Mário Nunes
(jornalista)
Fotos cedidas por Marco Ventura