Ao final da tarde de ontem
decorreu mais uma jornada do Campeonato de São Miguel, no escalão de juniores
em futsal masculinos, no Pavilhão Multiusos, em Vila Franca do Campo. As duas
formações que se encontraram no recinto de jogo foram o Escolar de Vila Franca
do Campo e o Clube Operário Desportivo. E o que parecia mais um encontro
pacífico de futsal terminou antes do tempo regulamentar, com o árbitro a dar
por terminado o jogo a 10 minutos do final, por falta de atletas do Operário em
campo, conforme está escrito no relatório do árbitro.
Na primeira parte do jogo, e
nas palavras de Vítor Santos, existiram alguns incidentes, pois “por cima do
banco de suplentes, os adeptos do Escolar, arremessaram garrafas de água,
vários objectos e frequentes cuspidelas”. Como não existia policiamento (e não
é obrigatório existir), o treinador do Operário, queixou-se ao árbitro da
partida e alguns adeptos foram retirados do local. O jogo prosseguiu e o
intervalo chegou com uma igualdade a dois golos no marcador.
A parte complementar trouxe
consigo cenas lamentáveis e muitos distúrbios que envergonham o futsal. De
acordo com Vítor Santos, o banco de suplentes voltou a ser bombardeado com
garrafas de água e muitas cuspidelas, algumas das quais caíram na cara dos
atletas do Operário. E foi numa dessas situações que o júnior do Operário Diogo
Santos sentiu uma cuspidela na própria cara e, instintivamente, pegou numa
garrafa de água e arremessou-a para os presumíveis “desordeiros”. Acontece que
a garrafa bateu directamente no corpo de uma jovem que nada tinha a ver com a situação
e o árbitro da partida deu ordem de expulsão a Diogo Santos. Neste momento, o
atleta é então rodeado, a caminho dos balneários, pelos adeptos da casa, e
alegadamente agrediram-no de tal forma que chegou a perder os sentidos. Naquele
instante os seus colegas suplentes ao aperceberem-se do que se passava correram
todos em seu auxílio e igual atitude tiveram os atletas que se encontravam a
jogar no campo. O árbitro ficou sem atletas do Operário em campo, e dado que a
situação se estava a passar fora de campo, deu por terminado o encontro,
alegando no relatório que a vitória era dos locais por abandono do terreno de
jogo dos visitantes. Aliás de salientar que o Clube Escolar nessa altura vencia
o Operário por 5-3.
Vítor Santos referiu à nossa
reportagem que nunca tinha visto nada assim em toda a sua vida de desportista e
treinador. “Não acredito que cenas como estas possam acontecer. Atletas e
adeptos do Clube Escolar a baterem num atleta. Como é possível que este clube
de Vila Franca continue, jogo após jogo, a ter atitudes destas e ninguém faz nada.
É triste e humilhante ter que sair de Vila Franca escoltado por carros da PSP,
e depois os adeptos cuspirem na cara dos meus atletas. Isto não é normal, e muito
menos civilizado. Nunca vi tal coisa em toda a minha vida e como é possível que
o Escolar continue impune e ninguém lhes toca. Porquê?”.
Do lado do Clube Escolar de
Vila Franca ouvimos Carlos Arruda, presidente da colectividade que afirmou que
"não chegou a existir cenas de violência com os seus atletas e que isso pode ser
comprovado”. Contudo, lamentou o sucedido pois “a modalidade, o nosso clube e a
nossa Vila ficam mal vistos por algo que não fizemos, apesar de nos acusarem
indevidamente. Sinto tristeza porque a vivência desportiva de Vítor Santos
tem-se pautado sempre por situações semelhantes e esta foi mais uma. Estou
desapontado e triste, por aquilo que aqui se passou, mas o Clube nada teve a
ver com isso. E o que existiu terá sido com meia dúzia de adeptos que não
controlamos nem somos responsáveis pelos seus comportamentos. Nós mantivemo-nos
em campo e o banco de suplentes também não se mexeu. Ficámos quietos à espera
da decisão do árbitro”.
Igualmente o Professor Nuno
Martins, técnico dos juniores disse que de facto nada tinha acontecido, e acrescentou
que “Vítor Santos teve sorte pois naquela hora não estavam no Pavilhão alguns adeptos
que fervem em pouca água, porque ai sim, a violência poderia existir, e então
iria repetir-se o que já se passou com ele há dois anos na Maia”. E Nuno
Martins referiu que um seu atleta foi agredido por Vítor Santos em pleno campo
com uma cabeçada, e por essa razão o jogador foi à esquadra da PSP local.
Nuno Martins declarou não
entender a “necessidade de tanta polícia para escoltar o Operário até à Lagoa.
Pareciam uma equipa da 1ª divisão a sair daqui, cheios de Policia, quando nós
não tocamos em ninguém, nem maltratamos ninguém. Nós é que ainda fomos
ameaçados, por Vítor Santos, pelo que vamos ponderar se iremos comparecer no
jogo da 2.ª volta em casa do Operário.
Contactada a PSP, na pessoa
do oficial de dia, Comissário Aguiar, foi confirmada a existência de uma
situação anómala no Pavilhão Multiusos, em Vila Franca do Campo. De facto, dois
agentes da esquadra de Vila Franca do Campo seguiram para o local dos
“desacatos”, mas foi necessário solicitar reforços à Esquadra da Lagoa, tendo
sido identificadas algumas pessoas, sem que existissem detenções ou feridos.
Mário Nunes (jornalista)