quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A COMPETIÇÃO NO KARATE PELO SENSEI ANTÓNIO MELO

A competição no contexto da aprendizagem significa normalmente uma motivação maior para o aluno seguir, melhorando a técnica, tanto no kumite como no kata. A competição tem dois objectivos: um é estimular a aquisição da técnica e o outro é simplesmente manter o interesse do aluno e evitar o "aborrecimento".
 
Existe nas academias de karaté um dogma que diz que:  ”se uma pessoa quer melhorar a sua técnica ou aprender a ser um bom lutador, deve praticar com gente de grau superior ou de nível técnico elevado”. Esse é um erro muito grande. Se a repetição de um movimento técnico, desde que não excessivo, como foi visto na questão técnica, é parte essencial para se obter um bom golpe, e todas as autoridades estão de acordo com isto, de que o golpe deve ser repetido com frequência e êxito.
 
No entanto, se o treino é feito sempre com alguém superior, dificilmente se conseguirá aplicar ou repetir o movimento técnico proposto, pois o atleta de nível superior não o permitirá. Se por um lado o praticante de nível técnico inferior pode obter vantagens, como melhorar a sua defesa, resistência e garra. Por outro lado, nunca vai conseguir melhorar a sua técnica de aplicação. O atleta de nível superior quando treina com um inferior às vezes deixa de aplicar alguns golpes, logo isto não é aprendizagem. Para melhorar a técnica o aluno deve praticar com companheiros de nível inferior ou igual a ele, pois somente desta forma poderá repetir a sua técnica o suficiente para melhorá-la.
Cabe ao professor fazer entender aos alunos que o jyu-kumite ou kumite esportivo (com regras), nada mais é que uma forma de estudo das aplicações técnicas e tácticas do karatê, e não um movimento de fúria selvagem. A diversão também é de muita importância na aprendizagem, pois para que se tenha um óptimo nível de aprendizagem, deve-se ter diversão em seu processo.
Em algumas academias (dojôs) torna-se difícil entender o porquê das pessoas praticarem karatê, uma vez em que todos estão com a “cara fechada” e o ambiente é depressivo. Naturalmente que deve haver tranquilidade, produto do esforço e concentração, porém isso não significa que deve existir desânimo.
O jogo e a brincadeira têm um papel importante na aprendizagem do homem. A teoria da catarse diz: “O jogo é catártico em sua acção, isto é, facilita uma saída a certos instintos e emoções reprimidas que não podem encontrar uma expressão directa suficiente, nem na infância e nem na vida adulta”.
Na vida civilizada, o instinto de agressividade, por exemplo, não encontra um campo de acção suficiente, pois somos lutadores por natureza e é por isso que o homem civilizado luta no jogo.
Desta forma, qualquer jogo é um simulacro de combate em que não tem derramamento de sangue, mas sem dúvida se liberta a energia deste instinto ao promover um canal para a sua expressão.
 
Sensei António Melo